(© Dan Addison/University of Virginia Communications Dept.)
Jahan Ramazani, que leciona na Universidade da Virgínia, manteve os alunos em mente ao editar uma coletânea de poesias (© Dan Addison/Departamento de Comunicações da Universidade da Virgínia)

Qualquer estudante universitário nos Estados Unidos que faça um curso de Literatura provavelmente receberá uma antologia Norton — uma das várias coletâneas de histórias, poemas e ensaios críticos.

Jahan Ramazani, editor da Antologia Norton de poesia moderna e contemporânea, diz que, como professor, sabe que um poema sem seu contexto pode ser difícil para os alunos. Ao compilar a edição mais recente da antologia, ele apresenta aos leitores 195 poetas com breves biografias e discussões sobre as influências e temas de cada um deles. Esse pano de fundo permite que os leitores passem rapidamente para o prazer dos “sons, ritmos e saltos imaginativos” dos poemas, diz ele.

O trabalho de um editor

Enquanto reunia a melhor poesia em língua inglesa dos últimos 150 anos, Ramazani mantinha em mente um de seus próprios professores, o falecido Richard Ellmann, que deu aulas a Ramazani na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e que havia coeditado uma edição anterior da coletânea de poesias. Ao atualizar a antologia, diz Ramazani, ele tentou preservar a prosa elegante e o “brilho” de Ellmann.

Walt Whitman de chapéu (© AP Images)
Walt Whitman (© AP Images)

Compilar poemas para incluir na coletânea às vezes era semelhante a “guerras de poesia”, de acordo com Ramazani. Colegas acadêmicos e poetas emitiram opiniões fortes. “Muitos poetas aderem a uma estética específica que desejam promover e dirão que todo o resto é lixo”, diz ele.

A antologia inclui poetas americanos, britânicos e irlandeses consagrados, como Walt Whitman, Wallace Stevens, T.S. Eliot e William Butler Yeats. No entanto, Ramazani excluiu mais da metade dos poemas da edição anterior e acrescentou um grande número de obras de escritores e poetas mais novos e experimentais de muitos outros lugares*.

A coletânea

O volume 1 abrange poemas “modernos” do final do século 19 e da primeira metade do século 20. Reagindo contra o Romantismo de uma era anterior, muitos desses poetas escreveram poemas menos pessoais. O volume 2 compreende poemas “contemporâneos” escritos após a Segunda Guerra Mundial, que são mais pessoais. Ramazani contrasta o poema moderno de T.S. Eliot, A Terra Desolada, que lamenta a civilização, ao poema contemporâneo de Sylvia Plath, Daddy, que lamenta seu pai autoritário.

A poesia de língua inglesa, e especialmente a poesia americana, se tornou mais diversificada e internacional. Ramazani inclui poemas de escritores indígenas americanos, latinos, asiático-americanos, africanos, indianos e caribenhos.

Apesar dos contrastes, os leitores encontram pontes entre vários poemas e poetas. Ramazani diz que um poeta britânico punjabi, não familiarizado com o cânone americano/britânico, ficou encantado ao descobrir palavras em sânscrito Shantih shantih shantih em A Terra Desolada. Ao mesmo tempo, o trabalho mais recente do poeta americano da Caxemira Agha Shahid Ali mostra um estilo formal derivado da cultura urdu da Caxemira.

Amiri Baraka apontando o dedo (© Mike Derer/AP Images)
Amiri Baraka (© Mike Derer/AP Images)

A seção sobre a poeta americana Joy Harjo menciona a influência que poeta ugandês Okot p’Bitek teve sobre ela. Os poemas de p’Bitek também podem ser encontrados no livro.

Ramazani salienta que muitos dos poetas contemporâneos “estão interagindo com nosso mundo, seja ouvindo hip hop ou lendo filosofia, eles se baseiam na alta e na baixa cultura e as misturam de maneiras fascinantes”.

Ramazani cita um poema do afro-americano Amiri Baraka, “Monk’s World”, com suas síncopes irregulares, semelhantes ao jazz, que se estendem pela página e seu uso rebelde de pontuação (sem aspas de abertura) —

Monk carregava equações que ele dançou para você.
             O que está acontecendo?” Dissemos, enquanto ele 
            mergulhava e girava. “O que está acontecendo?”

— tão importante quanto as estrofes lindamente esculpidas e cuidadosamente rimadas de Tristes passos do britânico Philip Larkin (esses versos sobre olhar para a lua),

Há um leve arrepio, quando se olha para o alto.
A dureza e a claridade e o alcance,
A singularidade de tão vasto e fixo olhar 
É lembrança da força e da dor 
De ser jovem; do que não se pode ter de novo,
Mas que é vivido por outros, em pleno, nalgum lugar.

[Fonte da tradução: aqui]

Ramazani, que é de origem britânica e iraniana, lembra de ter visitado o Irã quando criança e ouvir parentes terminarem as citações uns dos outros baseadas em poetas persas que viveram no século 13. Reconhecer as conexões entre a linguagem primitiva e a linguagem tardia parece ser natural para ele.

* site em inglês