A poluição do ar está piorando na Índia e em toda a Ásia. E já tem enfraquecido o crescimento econômico e causado mortes prematuras. E ainda ameaça a capacidade da Índia de produzir alimentos suficientes para sua população. Mas existem soluções.

Smog (mistura de neblina com poluição) sobre o norte da índia tem piorado desde que esta foto de 2004 foi tirada (Nasa)

Para o cientista do clima V. Ramanathan isso é “chocante”. Ele pesquisa a ciência atmosférica há décadas na Universidade da Califórnia, em San Diego, e em outros lugares. Seu conselho: Faça algo agora.

Em um estudo recente*, Ramanathan e a coautora Jennifer Burney descobriram que 36% das lavouras na Índia são destruídas por danos químicos resultantes do ozônio e das consequências da poluição por carbono negro. Em alguns estados da Índia, as perdas totalizam 50%. “Passamos um ano refazendo nossos cálculos para ter certeza de que não havíamos cometido quaisquer erros”, afirmou Ramanathan.

V. Ramanathan, à esquerda, e outros pesquisadores se reúnem com o papa Francisco no Vaticano em 2014 (Pontifical Academy of Sciences)

Por que isso está acontecendo?

Escapamentos de carros e caminhões, incêndios florestais e fogões a lenha que queimam biomassa, todos poluem o ar. As plantas expostas ao ozônio definham, diminuindo a produtividade das lavouras. De acordo com Ramanathan, partículas poluentes como o carbono negro* interceptam a luz solar e reduzem a precipitação. Isso acarreta menor produtividade de arroz e outros alimentos básicos que dependem da água da chuva.

Utilizando dados de 2005, os cientistas concluíram* que a poluição por ozônio por si só destrói lavouras que poderiam alimentar 94 milhões de pessoas. A poluição do ar na Índia tem piorado* desde então; portanto, os números de hoje são provavelmente bem maiores.

O ozônio troposférico de veículos a motor é tóxico para as plantas. O carbono negro proveniente de veículos e da queima de biomassa interrompe o ciclo da chuva ao interferir com a luz solar (Depto. de Estado/Doug Thompson)

A perda de bilhões de rúpias de plantações de trigo, arroz e algodão não é o único problema. Há um aumento significativo nas doenças relacionadas à poluição e nos gastos médicos que se seguem.

Porém, as “soluções estão disponíveis”, de acordo com Ramanathan. “Elas são razoavelmente simples. Elas têm um custo, com certeza. Mas quando você leva em consideração o custo da saúde humana e as mudanças climáticas, o custo relacionado à melhoria do ar é muito, muito, muito menor.”

A exposição diária ao ozônio danifica e mata as plantas (ARS/USDA)

O que precisa ser corrigido?

Combater o ozônio e o carbono negro trará resultados rápidos. “Você não tem de esperar 20 ou 30 anos; o efeito será imediato”, declarou Ramanathan.

Diversas tecnologias podem ajudar. A ampla utilização de fogões a lenha eficientes e de baixa emissão em cidades e aldeias é fundamental. As mulheres gostam de fogões mais eficientes, disse Ramanathan, como detalha este vídeo*, mas elas não têm recursos para comprá-los. Microfinanciamento ou subsídios direcionados poderiam ajudar.

A instalação de filtros de partículas de diesel em caminhões — algo que pode ser feito na Índia, observa Ramanathan — e a exigência de combustível a diesel de baixo teor de enxofre minimizariam os poluentes.

Os agricultores podem fazer uma diferença enorme ao não queimar resíduos agrícolas como palha de arroz e restolho de trigo. (A restrição de queimadas ao ar livre, dentre outras estratégias, melhorou a qualidade do ar de Los Angeles).

Ramanathan acredita em agir agora e envolver todas as pessoas. E conclui que precisamos “convencer as pessoas a resolver o problema”.

*site em inglês