O Mar do Sul da China: por que é importante

O Mar do Sul da China está entre os lugares mais bonitos do planeta. A região engloba mais de 250 ilhas, ilhotas, atóis, bancos de areia e recifes onde vivem mais de 6.500 espécies marinhas. O explorador e oceanógrafo francês Jacques Cousteau certa vez disse que a região é “uma obra de arte intocada”. Mas agora esse hábitat marinho insubstituível, as criaturas que ali vivem e o sustento dos pescadores da região estão ameaçados.

A destruição dos recifes de corais e da fauna e da flora marinhas que dependem deles também pode aumentar as tensões no Mar do Sul da China e o risco de um conflito.

Homens em barcos pequenos no mar (© National Geographic Creative/Mauricio Handler)
Um pescador bajau (população nômade de origem malaia) pesca albacoras em Sabah, na Malásia (© National Geographic Creative/Mauricio Handler)

Os desafios

A má administração desse tesouro natural vem tendo diversas consequências. A sobrepesca é parte do problema. Nos últimos anos, o número de algumas espécies de peixes diminuiu até 80%. Os peixes também estão sendo capturados ainda muito jovens. Isso significa que eles são pequenos e os pescadores precisam de uma maior quantidade para alimentar aqueles que têm o peixe como única fonte de proteína.

Três pessoas caminhando com peixes em um grande balde (© AP Images)
Filipinos tiram um contêiner com peixes de um barco na cidade costeira de Infanta, na província de Pangasinan, no noroeste das Filipinas (© AP Images)

Outro problema é a reivindicação de terra, uma maneira de criar ilhas artificiais. “A pior coisa que alguém pode fazer para um recife de coral é cobri-lo com toneladas de cascalho e areia”, disse o biólogo marinho John McManus, da Universidade de Miami, ao site de notícias ambientais SciDevNet*. Mas isso é exatamente o que vem acontecendo. Para criar uma ilha, dragas jogam areia e cascalho em cima dos recifes de corais, um processo que destrói por completo os recifes ou impede que aqueles que foram danificados se regenerem.

Imagem de satélite de recife circular (Iniciativa de Transparência Marítima na Ásia, do CSIS/Digital Globe)
Vários países dizem ser donos do Recife Subi, nas Ilhas Spratly do Mar do Sul da China. Até junho de 2015, a China já tinha dragado e aterrado mais de 6 milhões de metros quadrados de terra nesta região. Reinvindicações de terras como essa causam danos a corais e outras formas de vida marinha, além de prejudicar o sustento de comunidades pesqueiras locais (Iniciativa de Transparência Marítima na Ásia, do CSIS/Digital Globe)

De onde vêm a areia e o cascalho usados para criar essas ilhas? O material é retirado de lagoas e corais planos próximos, o que também danifica seus ecossistemas. A areia e o lodo entopem e danificam o tecido dos corais e bloqueiam o acesso à luz solar que traz vida para os corais. A areia e o cascalho usados para criar ilhas artificiais “podem ser arrastados ao mar pelas águas, formando plumas capazes de sufocar a vida marinha e às vezes contém metais pesados, petróleo e outros produtos químicos dos navios e das fábricas construídas no litoral”, disse Frank E. Muller-Karger, professor da Universidade do Sul da Flórida, ao New York Times.

Infográfico mostrando a área das ilhas artificiais que foram construídas no Mar do Sul da China, separadas por país (Comissão de Revisão para Segurança e Economia EUA-China)

John McManus acrescenta que a criação de ilhas artificiais já destruiu de forma permanente 1.300 hectares de recifes ricos em espécies.

Mergulhador segurando molusco gigante (© AP Images)
Um mergulhador segura um molusco gigante, conhecido localmente como “Taklobo” (© AP Images)

Uma tragédia ambiental, entre tantas outras, é o destino da ostra-gigante (Tridacna gigas), o maior molusco bivalve existente. Sua espécie está ameaçada. Infelizmente para a ostra, sua concha é considerada artigo de luxo na China e em outros lugares.

Para maximizar a captura ilegal das ostras, pescadores colocam deliberadamente hélices em barcos pequenos e os usam para cortar os recifes de corais e assim conseguir retirar os mariscos com mais facilidade. Em 2014 e 2015, o deslocamento de pedras e operações de construção de ilhas nos corais Fiery Cross, Subi e Mischief foram “imediatamente precedidos por uma série de barcos a motor que cortaram uma grande área de corais”, informa The Diplomat. O resultado? Moluscos mortos e danos severos aos corais, que sequer têm uma chance de recuperação porque alguns países vêm construindo ilhas artificiais em cima desses mesmos corais danificados.

Os corais seculares e as ostras-gigantes insubstituíveis são apenas duas das espécies ameaçadas. Confira algumas criaturas que estão correndo risco de vida.

Recifes de corais

Peixe nadando perto de recife de corais (© National Geographic Creative/Tim Laman)
Os recifes de corais do Sudeste asiático são os mais produtivos do mundo. Eles são um “um grande tesouro de recursos biológicos”, diz Jay Batongbacal do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (© National Geographic Creative/Tim Laman)

Criaturas grandes e pequenas

Estrela-do-mar sobre um coral (© National Geographic Creative/Tim Laman)
Estrelas-do-mar, como esta no leito de um coral, até a altura da Malásia, dependem do ecossistema da costa do Mar do Sul da China para sobreviver (© National Geographic Creative/Tim Laman)

Diminuição do fornecimento de peixe

Cardume de barracudas nadando (© National Geographic Creative/Tim Laman)
Essas barracudas estão entre as espécies que dependem do Mar do Sul da China (© National Geographic Creative/Tim Laman)

O preço da prática da dragagem

Camarões com cores vivas sobre ouriços do mar (© National Geographic/Hiroya Minakuchi/Minden Pictures)
Dragagens e aterros sufocam os hábitats dos recifes de corais e acabam matando espécies de camarões e ouriços do mar como estes (© National Geographic/Hiroya Minakuchi/Minden Pictures)

Perda de ecossistemas

Close do peixe-papagaio (© National Geographic Creative/Tim Laman)
Como os ecossistemas de recifes de corais estão desaparecendo, peixes como o peixe-papagaio de Cingapura enfrentam um futuro incerto (© National Geographic Creative/Tim Laman)

Um estilo de vida em risco

O “Triângulo de Corais”, entre a Indonésia, a Malásia e as Filipinas, abriga mais de 3 mil espécies de peixes de recifes. A estimativa é de que 100 milhões de pessoas na região dependem desses peixes para se alimentar e ganhar dinheiro

Dois homens carregando peixes em baldes, com um barco atrás deles (© AP Images)
Pescadores filipinos trazem seus peixes até o litoral de Infanta, na província de Pangasinan, no noroeste das Filipinas (© AP Images)

Os recursos naturais da região são muito interconectados. Peixes e outras formas de vida marinha na área entre a Indonésia, a Malásia e as Filipinas dependem dos corais e das larvas de peixe que vêm do Mar do Sul da China e das Ilhas Salomão. Quando os recifes são destruídos e enterrados, a atividade pesqueira pode acabar e a sobrevivência de comunidades de pescadores da costa, assim como todos os que dependem dos peixes, correm perigo.

Barcos flutuando na água ao anoitecer (© AP Images)
Os barcos pesqueiros são amarrados para a noite enquanto o sol se põe no noroeste das Filipinas (© AP Images)

Manter o estilo de vida dos pescadores vem se tornando mais difícil diante da criação de ilhas artificiais no Mar do Sul da China e da destruição contínua dos recifes de corais e das espécies que dependem deles.

As pessoas dependem de recursos naturais dos países do Mar do Sul da China e os cientistas deveriam trabalhar juntos para entender como a sobrepesca, a destruição de recifes de corais e as ilhas artificiais afetam o homem e a vida selvagem. A cooperação deles pode ajudar a manter a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China.  

* site em inglês