
Arqueólogos adotaram uma tecnologia a laser, desenvolvida pela primeira vez por engenheiros da Nasa na década de 1970. O objetivo era descobrir uma antiga civilização maia escondida nas densas selvas da América Central.

“Finalmente pudemos ter uma visão mais ampla da arqueologia maia que permaneceu escondida sob a floresta por mil anos”, disse Francisco Estrada-Belli, arqueólogo da Universidade Tulane, na Louisiana.
Ele foi um dos acadêmicos de uma equipe internacional, metade dos quais vieram de universidades americanas, envolvidos na descoberta de mais de 61 mil estruturas antigas usando a tecnologia de mapeamento a laser chamada “Lidar” (abreviação em inglês para “detecção e alcance de luz”). Trata-se de um dispositivo a laser que essencialmente transmite pulsos de luz do ar para objetos no solo e mede a distância. Depois que os pontos de medição são processados em um computador, o dispositivo gera um mapa geográfico.
“Basicamente, o dispositivo desmata a floresta digitalmente”, disse Thomas Garrison, colega de Belli na Faculdade de Ithaca, localizada no estado de Nova York. A Nasa ainda usa hoje o método Lidar para estudar a atmosfera.
A civilização maia floresceu a partir de 1000 a.E.C. a 1500 E.C. nas regiões de planície conhecidas hoje como Belize, Guatemala, Honduras e sul do México.
Novas constatações
O estudo, apoiado pela Fundação Patrimônio Cultural e Natural Maia (Pacunam*), da Guatemala, revelou extensos sistemas rodoviários maias, estruturas de defesa e sistemas agrícolas capazes de alimentar uma população que se acredita ser até quatro vezes maior do que se calculava anteriormente. Segundo Garrison, em torno de 800 E.C., essa população era possivelmente composta de até 11 milhões de pessoas.

“Fiquei chocado pela forma como os maias manipulavam cada centímetro do território. É o ambiente mais domesticado e otimizado que já vi. Creio que ninguém esperava ver isso”, disse Estrada-Belli.
“A arqueologia maia nunca será a mesma, da mesma forma
que a astronomia foi modificada pelo telescópio Hubble.”~ Francisco Estrada-Belli
Embora a densa selva tenha dificultado o trabalho dos arqueólogos durante muitos anos, também serviu para preservar a antiga civilização.

Estrada-Belli comentou sobre quantos sítios arqueológicos maias estavam fortemente protegidos. “Imagino que imensos exércitos de pessoas também os protegiam”, disse ele. “Essa é apenas uma das muitas descobertas que derrubaram nossas crenças anteriores sobre os maias.”
O estudo revelou que a população maia era muito mais numerosa do que a população atual, disse Garrison. E isso “é interessante porque mostra que talvez as práticas agrícolas que eles usavam fossem realmente mais sustentáveis do que qualquer coisa que se usa hoje”, afirmou.
Mapa do passado: um guia para hoje
Entender como as pessoas usavam os territórios tropicais é importante para os especialistas maias por causa da influência de uma área tropical no clima e nos ecossistemas atuais. “Esses eram lugares que pareciam ter sido administrados com muito sucesso por pessoas no passado, talvez melhor do que estamos fazendo agora”, ponderou Garrison.
Nas planícies maias, os sistemas agrícolas incluíam extensos níveis de terraceamento, pântanos recuperados e elaborados sistemas de canais. Os próximos passos para a equipe de acadêmicos foi chegar ao local e descobrir como as pessoas haviam administrado a região.
Embora a tecnologia Lidar tenha aumentado a compreensão a respeito dos maias, “ela também os torna misteriosos de algumas maneiras”, disse Garrison. “Existe a sensação de que há muito mais coisas que nem chegamos a estudar.”
* site em inglês e espanhol