Venenos de Putin: o ataque de 2020 a Aleksey Navalny

Este artigo faz parte de uma série que descreve como o governo russo e Vladimir Putin ocultam o envolvimento deles ou de seus aliados em ataques químicos contra civis em todo o mundo.

Aleksey Navalny pointing while speaking in a microphone (© Pavel Golovkin/AP Images)
Russian opposition activist Aleksey Navalny gestures while speaking to a crowd during a political protest in Moscow July 20, 2019. (© Pavel Golovkin/AP Images)

Quando um importante ativista político na Rússia se atreveu a desafiar o presidente Vladimir Putin, ele acabou envenenado com novichok, um agente neurotóxico de nível militar desenvolvido pela antiga União Soviética.

Em agosto de 2020, Aleksey Navalny ficou gravemente doente durante um voo doméstico na Rússia, de Tomsk com destino a Moscou. Ele foi levado para um hospital em Omsk após um pouso de emergência. Dois dias depois, Navalny foi levado para um hospital em Berlim, onde se recuperou.

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Em setembro de 2020, técnicos de um laboratório alemão concluíram que Navalny foi envenenado com um agente neurotóxico do grupo novichok. O veneno era semelhante ao que o serviço de inteligência militar russo (GRU) usou contra Sergei Skripal em uma tentativa de assassinato em 2018 no Reino Unido, onde Skripal vivia como cidadão. Esse ataque levou Skripal, sua filha Yulia e um oficial britânico ao hospital, e resultou na morte de outro cidadão britânico meses depois.

Laboratórios nacionais independentes na Suécia e na Finlândia, e a Organização para a Proibição de Armas Químicas confirmaram as constatações do laboratório alemão no caso de Navalny. (Saiba por que os agentes neurotóxicos são tão mortais.)

Em dezembro de 2020, uma equipe de investigação de jornalistas independentes implicou o Serviço Federal de Segurança da Rússia no envenenamento. A equipe consistia em Bellingcat, grupo de jornalismo investigativo com sede na Holanda, The Insider, Der Spiegel da Alemanha e o canal CNN. Essa constatação foi posteriormente confirmada pelos Estados Unidos e por terceiros.

Two police officers walking in front of building (© Evgeniy Sofiychuk/AP Images)
Police patrol August 21, 2020, in front of the Omsk Ambulance Hospital No. 1, intensive care unit where Aleksey Navalny was hospitalized in Omsk, Russia. (© Evgeniy Sofiychuk/AP Images)

Quando o envenenamento foi revelado, o Kremlin iniciou uma campanha agressiva de desinformação visando negar que o governo russo tivesse um papel no ataque, acesso a novichok ou um motivo para envenenar Navalny.

Desviar a atenção com falsidades

Técnicos do hospital de Omsk, provavelmente sob pressão dos serviços de segurança russos, disseram que Navalny pode ter ficado doente por causa do uso de álcool, fadiga ou má alimentação. Os partidários de Putin e a mídia estatal repetiram amplamente essa falsa teoria.

Autoridades russas e a mídia estatal espalharam várias alegações falsas após o incidente, incluindo:

  • Navalny ingeriu a bebida alcóolica “village moonshine” antes de seu voo.
  • O envenenamento ocorreu na Alemanha, não na Rússia.
  • Governos ocidentais, incluindo Alemanha e Estados Unidos, estavam tentando difamar a Rússia fabricando o relato.

Os meios de comunicação pró-Kremlin publicaram mais de 200 itens falsos sobre o envenenamento entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, de acordo com o EUvsDisinfo, um projeto da UE criado para monitorar e responder às campanhas de desinformação da Rússia.

Permitir que Navalny viajasse para a Alemanha foi apresentado como prova de que o governo da Rússia não estava envolvido no envenenamento.

“Se [os serviços de segurança] realmente quisessem envenená-lo, provavelmente teriam feito isso”, disse Putin em dezembro de 2020.

Navalny preso

Em 17 de janeiro de 2021, Navalny foi preso ao retornar da Alemanha e depois condenado a dois anos e meio de prisão por violações da liberdade condicional. Em março de 2022, ele foi condenado a nove anos em uma prisão de segurança máxima por acusações de fraude e desacato. As acusações e as condenações são consideradas politicamente motivadas*.

Enquanto estava na prisão, Navalny denunciou a guerra da Rússia contra a Ucrânia através das redes sociais.

A campanha de desinformação sobre armas químicas* do Kremlin continua hoje na Ucrânia, com tentativas de culpar terceiros enquanto ofusca suas ações.

* site em inglês